As profissões

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Me lembro de ter o anseio moleque de ser veterinário. Creio ter sido a primeira profissão que me puxou na imaginação. Claro, eu adoraria cuidar de cachorros e outros bichos e fixei essa como uma das metas da minha vida. Isso até minha primeira aula de biologia no colégio.

As intenções costumeiras são variadas, astronauta ou jogador de futebol, médico ou estrela de cinema. Conforme ganhamos molejo, desenvoltura e uma boa dose de realidade, muitas vezes essas propostas vão ficando mais singelas ou com direcionamentos diferentes. Se antes queríamos mudar o mundo ou levar o bem às outras pessoas, nesse momento os fatores competição, salário e custo benefício começam a aparecer e fazer muito sentido, botando na mesa ofícios como os de publicitário ou engenheiro, arquiteto ou analista de sistemas, ocupações que revelam ainda trabalhos que não chegaríamos a pretender, mas que chama sua atenção pelas comissões ou oportunidades, enfim, as mais diversas conveniências: vendedor imobiliário ou farmacêutico, gerente de projetos, coordenador de departamento pessoal, consultores diversos, desenvolvedores, executivos, processos, logísticas.

Acho que entendemos o ponto. Tem profissões que queremos e tem outras que caímos dentro ou que caem em nosso colo, tudo isso para o bem e para o mal.

Muito me intriga essa segunda leva, mais especificamente quando o ganha-pão é aleatório, quase invisível ou específico demais. Por exemplo, um vendedor de portas. Oras, vender pílulas que são consumidas aos milhares todos os dias, comida ou roupa, qualquer aparelho eletrônico não importando sua grandeza e até itens de legalidade duvidosa, tudo isso eu entendo. Agora uma porta. Quantas pessoas precisam comprar uma e quantas serão as vezes em que saíremos de casa dispostos a comprar uma? Sob quais circunstâncias alguém caiu em uma loja de portas para entregar o currículo de bom vendedor? Quem no mundo pensou em abrir uma fábrica de portas?

Não adianta dizer que é demanda que eu não caio nessa. Todo mundo sabe alguma demanda que “ah, se alguém começar a vender isso vai ganhar um mar de grana”, mas quantos efetivamente vão lá, juntar um montante considerável e arriscar um novo negócio, criar um mercado, esperar a demanda de algo tão óbvio, mas igualmente nebuloso. “Eu? Eu tenho uma fábrica pequena de vidro que produz frascos de 10ml e 12 ml para um fortificante da indústria de cosmético”. Sei que pode também parecer inocência minha, do garoto de Santo André metido a gente que escreve, mas é um fato que me intriga demais. “Eu confecciono máquinas que são vendidas para fábricas que fabricam máquinas” ou então “tenho uma usina que desenha as porcas que apertam máquinas que são vendidas para as fábricas que fabricam máquinas.

Essas pessoas existem. Mas por deus, de onde elas saíram?
 

Jader Pires