Maconha

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Eu sempre passeio com o meu cachorro no final da tarde. Chego em casa, depois do trabalho, coço a barriga dele, troco minhas roupas e me sento na sala. Às vezes eu vejo o episódio do dia de Malhação, tem dia que eu acabo caindo num soninho leve, só pra repor as ideias no ritmo correto. Coloco um som com a tevê desligada e vou pra cozinha comer alguma fruta. E daí, sim, saio com o cão na coleira pra dar um passeio.

Nesse dia específico ainda dei tremenda sorte de encontrar a pequena, que estava chegada do trabalho e resolveu me acompanhar na caminhada. Andamos alguns quarteirões, divagamos sobre nossos próximos dias, o show do Kamasi Washington (que acabei perdendo por motivos de saúde), fizemos umas contas do nossos cotidiano financeiro e o Mambembe - é o nome do meu cachorro - na frente cheirando, mijando, trotando.

Até que passamos na frente da minha padaria favorita. Ela fica de esquina e estávamos no contraponto oposto, do outro lado da rua e na virada mais distante dela. Olhei e fiquei com fome. Do outro lado, de frente para a padaria mas do outro lado da rua, duas meninas que aparentavam ter uns quinze anos, não muito mais que isso, estavam debaixo de uma árvore. Quando atravessei a rua para seguir o passeio, veio o cheiro de maconha. Uma delícia o aroma da cannabis e tomou toda a esquina a fragrância do beck delas que, ao ver a nossa aproximação, disfarçaram colocando o cigarro pra pra trás das costas e olhando para o alto, vento estrelas.

"Ei, que cheiro é esse?", digo dando aquelas puxadas rápidas de ar com o nariz, como se fosse um bicho de desenho animado.

A pequena me olhou de súbito. O dog me olhou com surpresa. As meninas me encararam aterrorizadas.

"Isso é cheiro de... Pão de queijo". Olhei para a padaria e atravessei a rua.

Eu fui embora.

Ouvi as meninas rindo. Era a maconha. Talvez.

Ah, os 15 anos.

Jader Pires