Amor de sujar as mãos | Do Amor #59
O ímpeto é logo o de segurar de vez com as duas mãos. Não é caso para modos ou composturas, mas da satisfação safada em matar a urgência desse desejo.
Com o hambúrguer na mão, nada mais importa.
Como no primeiro sexo. Foda-se se alguém pode estar olhando ou ouvindo, danem-se os que prezam pela decência, os cheios de pudores. A brincadeira aqui tem hora para começar e se inicia lambuzando dedos logo de cara, entregando ao tato o deleite dos caldos e molhos, o prazer pelo sujo e pelo pecaminoso, o ultraje de se abandonar qualquer sã virtude pelo entusiasmo do profano.
Morde, mastiga, engole, roça a língua contra o céu da boca, o paraíso entre os dentes, a urgência da fome e do tesão.
Deve tá na Bíblia que comer sanduíches aos regozijos é passagem mais que garantida para o inferno.
Engole-se a culpa e qualquer das vergonhas e parte-se de corpo e alma para o folguedo, a festa, a bagunça. O transe avassalador de ter o gosto na boca, espalhar os sabores fortes ao se esfregar na entrega, no "toma aqui que é tudo seu".
E é um chupar de dedos e um melecar de mãos, os cantos da boca suja pela carne e querendo mais dela, as pernas tremelicando, a garantia - na cabeça - que dessa vez vai se segurar ao máximo pra que aquele momento dure muito, mas muito mais. Não pode acabar uma delícia dessas, não é verdade? Limpa os lábios e o peito com papelzinho e parte pra mais uma, assim mesmo, impregnado com o cheiro da lambança, denunciado de longe "olha lá! É ele! Olha só a cara do pervertido", os outros dizem, aqueles que não compreendem a intensidade do gozo e do desfrute que o antecede, o vício que é matar a vontade que de pouco em pouco mata a gente durante o dia.
A fome.
O tesão.
Deu água na boca aqui. Deve ser amor.