Transar com aquele amigo das antigas… | Do Amor #123

No começo da faculdade, não existia calcinha que saía seca. Era ele chegar para as meninas todas ficarem com a roupa de baixo ungida bela beleza daquele rapaz. Era o bambambã mesmo, lábios violeta, duas carnes grossas que protegiam feito muro de castelo aqueles dentes grandes e alinhados. O afro sempre ajustado, cheio em cima e raspadinho bem perto da orelha. Quando nascia a voz daquele boca, porra, não tinha como não querer dar pra ele.

Aí passaram-se os anos, ficamos colegas, nada tão próximo, até meio protocolar lá pro final, formados na faculdade e dois dias depois nunca mais o vi, até aquele doido dia, o que, oito anos depois. Acotovelados na entrada do congresso, ele esbarrou o peito dele no mei ao tentar se virar com velocidade e olhinhos batendo nos olhinhos, meu tesão reconheceu aquele cheiro num pequeno instante. Ele sorriu, minha pélvis deu um tranco para frente, “caramba, você por aqui, que tá fazendo”, aquele papinho do reencontro, atualizações de superfície, uma natural tentativa mútua de se desvencilhar daquele encontrão não programado, depois uma lembrança engraçada ou duas dos tempos de faculdade “a gente se vê” etc. Ao final, nos vimos de novo e ele me convidou para um chopp. Minha intenção era de rodar a cabeça para a esquerda e para a direita em sinal de negativa, mas minhas pernas bambas foram dando passos ao lado dos passos dele até o carro e quando dei por mim estava no bar com o cara mais gostoso que tinha passado na minha vida. O corte agora era mais comum, quase todo raspado, o torso menos definido e usava uns óculos ovais que lhe empregava o ar um tanto tolo, menor do que pedia aquele rosto que já fora quadrado e agora ostentava um elíptico de quem deixou de ir à academia tinha uns anos. Mas ainda era apetitoso e todas as lembranças juvenis culminavam na tara que todas nós, garotas, tínhamos por aquele cara que, agora, descaradamente esfregava a perna na minha por debaixo da mesa.

E eu ia dar pra ele, obviamente. Jamais deixaria de poder ter aquela história para contar. Deixei ele ser galanteador, permiti ele amaciar a conversa, tomar iniciativas, como se eu estivesse sendo conquistada a conta gotas com as estratégias dele. Coitadinho, bastava estalar os dedos e lá estaria, eu, ajoelhada e pronta para receber as premiações daquele senhor por eu ser uma boa menina. De mãos dadas, a gente subiu as escadas do motel aos risos, como se voltássemos a ter lá nossos dezoito anos, eu e o garoto mais tesudo da universidade, o cara mais testosterona do rolê, o ídolo de todos, o inesquecível…

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O foda mal dada.

Gente, ele metia mal. Meio fino, uns gestos insossos, um palavreado meio pornô barato, um tom de voz alterado, meio rouco, quase o amante latino. Se pelo menos tivesse um bigodinho cafajeste, eu até tentaria entrar na brincadeira. Me girou lá em umas duas posições, meio sem perguntar como tava, fazendo às vezes de uma britadeira nova, todo o estardalhaço sonoro pra muita repetição. Eu juro que tentei focar, fechei os olhos, procurei as imagens dos tempos áureos dele, depois audaciosamente consegui encaixar a cara manceba dele no corpo de outro cara que me comeu bem demais tinha uns dois anos, pra tentar mesclar teoria e prática, o mundo das ideias com os fatos reais. Mas não adiantou muito não. Toda vez que minha mente forcejava escapulir, ele dava um grunhido malandro ou mordia algo de um jeito tosco e eu retornava àquela trepada mal dada. Doze minutinhos e lá estava ele arfando e gozado, despencando seu peso em cima do meu corpinho, os pelos espessos do peito, que antes eu tinha tanta vontade de me colar e brincar a noite toda, agora era um emaranhado meio asqueroso. 

Uma foda bem da enfadonha. Aproveitei o sono profundo que acometeu aquele cara que não era mais aquele cara e piquei a minha mula, de táxi mesmo. Tem dois meses que a notificação de pedido dele no Facebook tá piscando no meu aplicativo.

Um amor que a gente só cria na cabeça.

Jader Pires