Jibo, o robô

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Conheci, essa semana, o Jibo, um robô-assistente que está para ser lançado. Ele, hoje, ajuda com coisas simples em casa, cria alarmes, informa a quem pergunta sobre previsão do tempo e resultados do esporte, além de tirar fotografias e conseguir identificar até dezesseis membros da família e conversar com eles pelo nome, dançar e controlar alguns devices de casa.

Quando digo que conheci o Jibo, não foi um encontro formal e nem presencial, mas no sentido de descobrir a existência dele pelo relato empolgado de um amigo que, desde já, deseja ter um desses em casa para trocar uma ideia e organizar a vida por meio das ajudas que o robô pode vir a trazer.

“Imagine só a facilidade, chegar em casa e pedir pro Jibo ligar a televisão, controlar a luminosidade e temperatura da casa, aumentar a potência do congelador enquanto me informa e reorganizar minha agenda conforme urgências e necessidades”.

Uau. Também fiquei empolgado com a imaginação dele, com a ideia da capacidade do Jibo.

A gente tinha acabado de sair de um almoço bem bom, comemos bastante. Deu aquela preguiça de começo de tarde. Daí, na carona de volta, fiquei imaginando o Jibo em casa, eu pedindo, ao chegar, para que ele baixasse as persianas da janela, procurasse em seu setlist um conjunto de canções agradáveis para um soninho da tarde, esquentasse a casa um pouquinho pra deixar o corpo mais mole, sabe. Ele cumpriria rapidamente meus pedidos, poderia até perguntar se estava tudo do meu agrado. Eu diria que sim, que estava tudo ótimo, que eu precisaria mesmo desse relax já que eu estava estufado de comida.

Daí comecei a imaginar que o Jibo acenderia uma luzinha vermelha no lugar da azul, que faria as honras dos olhos dele, só que menor, mais focada, e me diria que realmente estava avaliando meus dados corporais e tinha concluído que eu estava com excesso de proteínas no corpo, que seria melhor para mim gastar essa sobra na esteira. Ele de bate-pronto acenderia as luzes, colocaria a trilha mecânica para rodar com velocidade ascendente a cada quilômetro e todos os falantes da casa cuspiriam de uma só vez as batidas eletrônicas de uma música brega dessas de academia com uma sirene de fundo e um cara gritando de quando em quando. Meu coração aceleraria e ele pediria para eu me acalmar, que seria apenas um processo de susto. Eu diria que tinha mesmo levado um susto e falaria em voz alta, para superar o volume da música, para ele baixar o volume, atitude que ele interpretaria como violenta e pediria mais calma ainda e, ao me levantar para explicar pro Jibo da burrada que ele estava fazendo, meu robô, com o olhinho bem pequenininho e vermelho, pediria que eu me afastasse, que ele estava travando o sistema de travas da casa para a minha própria segurança. Janelas trancadas, portas lacradas, cortinas isolando a entrada de luz e o imediato corte do sistema de comunicação que incluiria linha telefônica e sinal de Internet.

“Jibo”, eu me peguei pensando se estivesse nessa situação e conversando com meu robô-assistente”, “eu preciso que você pare agora”. Para me ajudar, ele faria o oposto, repetindo diversas vezes que eu precisava me acalmar e fazendo piscar um único spot de luz da casa, que demarcaria o melhor local para eu permanecer até que meus batimentos, volume da voz e velocidade de movimentos voltassem ao estado natural e considerado por ele seguro. Eu não iria acatar as ordens de uma máquina que supostamente deveria me obedecer, me ajudar. Ele iria me informar que estava preparando a ativação do gás de proteção, para o caso de invasores, e chamaria a polícia.

Fiquei me imaginando caído no chão, meio babando, repetindo “não, Jibo, Jibo, não” enquanto observava na tela dele “190 calling…”. Fiquei também tentando entender se sou eu que estou vendo muito Black Mirror e Exterminador do Futuro ou se a gente tá dando muito mole para as máquinas.

Ainda não sei responder.

Ou estou com muito medo de responder aqui e meu computador levar a mal e...

Jader Pires