"O tesão" e "Quase lá": O reflexo das nossas vontades | Do Amor #54

É muito maluco quando sentimos vontades. De trepar, de avançar, quando lembramos do último sexo ou bate, na cabeça, a lembrança de uma noite suja e saborosa. 

Reuni aqui duas pequenas situações que ilustram as nossas vontades.

O tesão

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Doeu quando os dentes, perfilados em perfeita harmonia, puxaram a pele solta no canto do lábio. Saiu sangue e, mesmo dolorido, estancou o pequeno rasgo com a língua.

Não sabia ao certo se a ferida fora causada pela raiva contida ou só por desatenção que a foto lhe provocara ao impregnar sua cabeça de memórias desagradáveis, apodrecidas.

Olhando a imagem eternizada em filme, sentiu novamente os cheiros, o gosto que ficara da hora que estava entre as pernas, se arrepiou com a lembrança de como os dedos escorriam pelas costas enquanto se dedicava em prazeres.

Queria mais daquilo. Mas não tinha mais.

E daí se mordeu. Não sabia se de raiva ou de vontade.

Um pouco dos dois, talvez.

A conclusão deu ainda mais tesão.

* * *

Quase lá

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Era só questão de aguardar o momento certo. O apagar das luzes, os barulhos vindos dos trailers na tela, a distração coletiva. Tudo pronto para que ele pudesse, enfim, tentar. Quieto no dia a dia, tinha na cabeça que seria uma boa surpresa se mostrasse suas vontades assim, quase em público, evidência de desejos maiores que ele experimentaria se fosse espertinho e fizesse tudo do jeito certo.

Pelo menos foi o que seus amigos de classe lhe disseram.

Respirou fundo e botou a mão na perna dela. Esperou uns segundos e não sentiu um empurrão ou ouviu bronca alguma dela. Virou a cabeça com intuito de encará-la, mas tudo o que conseguiu ver foi os olhinhos dela brilhando com o reflexo da película e um sorriso de quem acertou.

Estava quase lá. Sentiu a musculatura da coxa dela mais solta e percebeu seu movimento. Estava quase lá.

Bastava subir mais um pouco por debaixo do tecido gelado da saia. Quase lá.

Mas não teve coragem.

Jader Pires