Um lanche, uma peça ou umas putas? Das nossas tolas dúvidas | Do Amor #147
A noite caiu e o tédio fez o cara querer bater uma punheta. Ele botou um vídeo, abriu umas fotos das Playboys dos anos noventa, mas nada aconteceu. Era o enfado. Roçou frouxamente o indicador em um tufo de poeira no encosto do sofá, percebeu na janela os últimos tons de laranja desaparecendo pra dar espaço ao umbroso anoitecer. Levantou-se para acender a luz da sala e acabou saindo de casa.
Nada passaria na televisão, só aqueles jornais chatos que mata bandido antes de condená-lo e fica gritando dentro do estúdio com ar condicionado e terno feio. Deu embora todos os livros depois que ela foi embora e há meses não renovava sua leitura por nada. Achou que o asfalto e o trânsito iriam acalmá-lo e foi pra rua. Acendeu seu cigarro e pôs-se a caminhar. Cumprimentou os pobres cachaceiros do bar Andorinha, tristes figuras em frente ao predinho onde morava, desceu a rua parada de carros cantarolando alguma canção não reconhecida pela própria memória.
No caminho, sentiu algo estranho, como se a fumaça do cigarro, em vez de lhe grudar nos pulmões, dispensava densa para o estômago, um vazio, uma falta. Bateu-lhe uma fome dos diabos. Continuou caminhando até avistar uma lanchonete na esquina, daquelas hamburguerias chiquetosas da cidade. Parou em frente, apertou a bituca esturricada no cinzeiro do lado de fora e se atentou para o cardápio escrito com giz de lousa na parede escura. Achou o preço uma barbárie, "onde já se viu cobrar essa coisa toda em dois pedaços de pão e uma carne?". Sentiu-se genuinamente ofendido, observada as pessoas se divertindo lá dentro, travadas na fila, chupando refrigerantes pelo canudinho e apertando o ketchup em cima da alface. Sem ela, nem fazia sentido perder qualquer hora num lugar daqueles.
Desistiu de comer e seguiu caminho. "Vou é alimentar minha alma", zelou com o pensamento enquanto caminhava com as mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans. Sabia que, umas quadras adiante, encontraria um velho teatro e, lá, assistiria a alguma peça. Mas as coisas não eram mais como ele imaginava. A antiga casa de comédia e drama se transformou em uma casa moderna de musicais, até com nome de celular ficou. Lá dentro, um espetáculo que adaptava a dançante trama das aventuras de um super-herói conhecido. Lasers atravessavam a entrada, pessoas excitadas, ingressos a partir de duzentos reais.
"Meu deus, mas o que é isso?", ele gritou dentro da cabeça. "Nem ela me faria entrar num desatino desses". Pensou que, com duzentos reais, ele aproveitaria muito mais a noite "com umas putas, duas notas de cem eu faço uma festa de arromba, cacete!". Ele foi até o caixa eletrônico e sacou o valor. Imaginou-se sentado e envolto a uma morena, uma oriental e uma ruiva, ou duas gêmeas de cabelos platinados e cara familiar, como se já tivessem aparecido em algum programa de tevê. Jogaria bebida no torso delas e lamberia, faria elas fazerem uma fila para ter um pedaço dele, exigiria súplicas, daria seu pau só a quem merecesse, seria um titã, um deus, devoraria todas elas para que nunca mais elas tivessem na boca outro gosto que não o dele. Como deveria ter feito com ela.
"Porra. Toda hora ela". Percebeu o corpo desinchando da empolgação inicial. Mais mirrado, botou a grana amarrotada no bolso e pensou que, melhor do que gastar duzentão com garotas, poderia ir para casa e bater várias punhetas e ainda economizaria duzentos reais.
Gozou três vezes em frente ao computador e foi dormir pensando nela.