"Que paixão errada. Eu era tão feliz com você": a delícia de falar com nossos ex | Do Amor #146
A minha vontade, vontade mesmo, era colocar o vídeo abaixo e não escrever mais nada.
Às vezes, as palavras só atrapalham:
Essa conversa entre a cantora Maria Bethânia e o ator Antonio Pitanga é um desbunde. Carinhosa e atenta, os olhos, as vontades. Veja só, as vontades. Não me aparenta, em nenhum frame, que há um desejo de que algo aconteça. A aspiração, naquele recorte, me lembra mais a satisfação de quando escutamos o estrondoso e vitorioso barulho da rolha desobstruindo o caminho do vinho, é o alívio, um banzo voraz. Não saudade. Nostalgia. Desnecessário querer mais uma vez, mas obrigatoriamente sedutor reviver.
Peneirar.
A gente vai deixando de lado as zangas, o problema, a chateação. Passa só a graça e os cheiros, as cores, camisa azul, mar, namorador. De repente, a troca outrora doída a beça, agora vira historieta, laracha, um pipitar de passarinho zombador que faz a gente sorrir. Só delícias.
Todas esse palavreado mole me faz querer dizer que podemos não mais levar nas costas um fardo bobo de que ex-namoro, casamento terminado, é sinal de derrota, de desgraça a ser esquecida, empurrada pra debaixo da porra do tapete da vida porque não se revive coisa ruim. Demonizamos o outro, encaixamos empecilhos, treinamos feito cachorro obediente o condicionamento clássico. Uma campainha toca, e salivamos. Ouve-se o nome do ex, da ex, e trememos, damos de ombro, nos falta o maldito ar e mudamos a rota da conversa, trocamos de assunto, batemos com os nós do dedo médio contra a madeira, como se fosse errado, como se quem permite fosse o torto, uma lembrança canhota que não deve fazer parte do nosso dia a dia. Erramos demais optando por isso.
Claro, arrumações necessitam de serem feitas, há relacionamentos que acabam mal, namoros abusivos, abandonos financeiros. E não estou aqui para glorificar relação pela relação. Mas, raspando esses casos do caminho, se a gente botar um observar sereno, vamos reparar que a maioria dos fins não necessitam de tantos cuidados e afastamentos, ou, mais ainda, que, dado o afastamento inicial que pode durar dias ou meses, que pode durar um ano ou dois, sim, esse retorno, não das pessoas, mas do relacionar-se, costuma render belíssimos frutos. Como este. Da conversa da Bethânia com Antonio, que rolou num documentário sobre o pai da Camila. Dos Pitanga.
"Infernal, lindo você", bota para fora uma Bethânia inebriada, jogando cabelos, olhando fundo (mas não no próprio fundo, como diria o irmão caçula, Caetano, lá nos anos noventa), um Antonio prestativo, deixando silêncios, o riso solto, a visão pregada no rosto dela. Um reencontro. Escrevi tudo isso para pedir, com toda a airosidade que me é permitido, a benesse do amor. Não terminem a relação de vocês. Ressignifique. Dê o tempo, mas não espaço. Volte. Não a namorar, a ser casada ou casado, a envolver-se de novo com a mesma pessoa, mas aproxime-se, permita o aprochego, anos depois, outros seres, as mesmas memórias. Provavelmente não será mais um momento para convencimentos, quem há de querer estar certo numa hora dessas? Resta só a troca. O esparramado e delicioso leite ao chão. Remediado. Aproveitem! Lambuzem-se. Conversem sobre o que foi, como foi, entreguem esses momentos e entreguem-se a esses momentos. Eles são libertadoramente interessantes.
"Dá um beijo em Benedita, fala pra ela não ter ciúmes não".
Vai ter, não. Não cabe ciúmes nesse reencontro. Só agradecimentos. A gente devia pagar ingressos no cinema para ver reencontros ao invés de explosões. Fariam fortunas, eles.
Eu pagaria.
Tô apaixonado por esses dois.