Encontrou com a ex no carnaval e... | Do Amor #127
"Porra, cê tá todo cagado de azul", brincou um dos amigos quando o viu sair pelo portão o prédio. Resolveu ir para o bloco de gênio do Alladin, coque samurai, sem camiseta e todo besuntado em tinta e glitter azul. "Hoje eu realizar desejos", seria seu bordão por todo o carnaval.
E foi lá brincar. Pegaram o precário transporte público nos dias de folia e chegaram no centro. Multidão, aglomeração, cerveja barata. Era hora de se entregar ao ziriguidum, ao balacobaco e ao telecoteco. Pularam carnaval, encontraram outros amigos, outras amigas, pequenos grupos amontoados com celulares para cima gravando trechos de músicas brega demais para não afetar as emoções etílicas e não promover a entrega. Era a festa da carne, os últimos pecados antes da quaresma, a Saturnália tupiniquim, o lado de baixo do Equador botando para quebrar. Dançou, foi apalpado, encheu a boca de duas garotas com sua língua grossa, teve o telefone furtado e estava leve, sorrindo, completando a cartela do bingo no calorento alvoroço. E, em meio àquelas monções de chupadas e dentadas, sua atenção cortante o fez ficar sóbrio num pulo. Ali, no meio da quizumba, no núcleo da esbórnia, seus olhos encontraram a ex, linda, suada feito menino levado, a roupa empapada marcando o quadril que sempre o hipnotizara, bêbada, contente, parecia que os pezinhos dela não tinham tocado uma vez sequer o chão imundo. Instintivamente foi se aproximando, tinha que ser ela, só podia ser ela. Suas narinas até passaram a detectar, ou ele acha que estava detectando, o cheiro do perfume dela, mesmo atolado naquele mar do mais sincero odor humano, a transpiração dos afogados. Ela estava vestida de Jasmine, um cropped verde-água combinando com a calça translúcida de tule. Automaticamente seu único objetivo era o de colar seus glitters com os glitters dela em algum canto, fazer um remember, mostrar pra ela o que ela estava perdendo aquele tempo todinho que estiveram separados.
Caminhou uns passos manquitolas, achando ter percorrido quilômetros quando tinha saído, de fato, meio metrinho adiante. Mas não podia desistir, apertou uma das pálpebras para que a outra se concentrasse em não perder sua princesa árabe. Apoiou-se em um cara vestido de Coringa, rodopiou para escapar de um Guga Chacra que queria fingir entrevistá-lo e bravamente se agachou para transpassar duas irmãs vestidas de emoji de bailarina até chegar coladinho nela, na sua ex, no amor que sua vida estava precisando. E recebeu um abraço ardoroso dela, justamente com um agudinho grito de "ah, você aqui!"e tudo o mais. Riram, os dois, de estarem na coincidente mesma festa e com fantasias que combinavam! Ela disse que tinha certeza que ele tinha gostado do filme quando saiu no cinema, comentou ter lembrado dele quando viu o Will Smith. Então, enquanto uma das mãos dela agarravam com firmeza o punho dele, como se fizesse questão de mandar um aviso claro de que não era para ele ir embora, com a outra ela tateava estranhos até encontrar sólido antebraço do cara que a estava acompanhando. Era um garotão mais novo, mas com uma presença marcante, um corpão rígido e achocolatado. Tinha os cabelos bem escuros, um petróleo que escapava acima daquela testa bronzeada e olhar doce. Lindo, ele, exibindo uma calça também de tule, branca, e o torso nu, só adereçado por um colete roxo. "Olha, ele tá de Alladin! A gente tá completo agora". Os guinchos esganiçados dela demonstravam toda a sua satisfação, juntar duas pessoas que ela adorava, e ainda todo mundo combinandinho! Puxou ambos para uma dança de sanduíche, fez bumerangues nos stories, ordenou que ambos fossem fotografados beijando as bochechas lisas da água salgada que brotava em suas têmporas. Agarrou o novo companheiro, trocaram salivas enquanto o ex assistia tudo de camarote, o coração a galope e uma estranha vontade de vomitar. Percebeu o grandalhão confidenciando algo no ouvidinho de sua ex-alteza, reparou também que ela seguia ficando bem arrepiada quando seus ouvidos eram tocados por uma boca. Estranhou os saltinhos que ela dava depois, olhando para ele com a língua de fora e piscando um dos olhos, claro sinal, para ele, de que ela vinha com alguma sapecagem (era assim que ela se comportava quando ele cedia aos desejos e taras dela, quando ainda namoravam).
Com a fala cortante e ainda agudinha, ela chegou bem pertinho dele e perguntou se ele ainda estava disposto a ser o gênio daquele trio e realizar os desejos de um casal. Sua mente foi transportava para uma cena de ménage, ele e o garotão forte disputando espaços da mandona donzela e não bateu muito bem. Não saberia se comportar concorrendo de alguma forma com a performance daquele cara gostoso plantado atrás deles. Mas ela riu um risinho violento e puxou-o mais para perto, para fazer o que fizeram com ela há pouco. Encostou os lábios molengas de bebida na orelha dele e soltou o que realmente estava querendo. O gênio olhou para ela, botou os olhos no Alladin, tornou a encará-la. Olhou em volta, a música, o descaso de quem festejava ao lado, rememorou o arrepio dela, a carinha alegre que fez segundos antes, recordou-se de como fazia bem para ele vê-la feliz e concordou. Fechou os olhos enquanto ela sumia no meio do povaréu e, só com o toque em seu corpo, só com o contato, sentiu aquele peito duro descer suado e escorregando pelo seu até o encaixe perfeito. Sentiu também a boca ácida daquele Alladin tomar conta da sua, empurrá-la, comprimi-la até que ele entendesse a ordem clara e abrisse os dentes, sentindo uma língua gorda invadir sua boca, um beijo mascado, melado, mexido. Sentiu raios e trovões soltando faísca debaixo dos braços, entre as pernas. Deixou-se ser abraçado, cutucado, revirado, pegou aquele molecão de jeito, deixou-se fazer gato e sapato, beijou experimentou, esfregou-se, foi para casa cheirando o cheiro dele e nem banho tomou para dormir peladão e sujo na sala.
Na manhã seguinte, mandou mensagem agradecendo a ex.
Disse também que, quando eles terminassem, que ele agora teria duas chances e não uma.
Amores de carnaval.