O arrependido: vale a pena guiar-se pelos remorsos? | Do Amor #141
Chegou em frente a casa onde morou um dia e se arrependeu. De estar ali, de ter retornado ao local onde tanto sofrimento ele imputou.
Culpava-se por ser o pivô da tristeza que emanava dali, como se fosse sua ausência a transformar aquele casebre em lembranças lúgubres. Imaginava névoas e cantos cinzentos, o triste mutismo decorrente de seu desaparecimento, da covarde fuga que, anos antes, o fez não estar lá. E quem sobrou? Haveriam de cumprir, até aquele momento, o intratável dever dos enlutados, levando uma rotina cabisbaixa, taciturna, banhados nas nostálgicas lágrimas pela falta daquela figura que, mesmo depois de todo um bom tempo, ainda os assombrava. Só que, ao dobrar a esquina e dar de frente com o endereço, não se deparou com o que estava imaginando, mas sim com um lar receptivo. Aconchegante.
Seu sumiço não decretou o fim da coisa, ao contrário. Sua importância parecia ser pouca ou quase nada. Tinha luzes e risadas, até uma canção mal cantada à capella se podia escutar. Forçava toda a musculatura do rosto para sorrir, mas não conseguia. Ficou apenas na solitária posição de reparar. Todas as mentes que prestavam atenção nele seguiram autônomas e felizes, dedicando atenção a outras saliências que valessem o tempo, que compensasse a disponibilidade. Estranhando, abriu o portão e passou por ele com passos pesados, como se vestisse botas de aço, como se quisesse, na verdade, andar para trás e se anunciar, uma mistura de vergonha e entendimento da própria insignificância com a cólera da falta de homenagens. Começou a esperar que as reações ao seu retorno fossem de espanto negativo ou, pior ainda, a de indiferença, que as pessoas ativamente mal dissessem dele ou lhe virassem e cara, como se não fosse quisto mais por lá. Ledo engano. Ficou foi cheio deles. Os que lá estavam recepcionaram-no com calorosos abraços, questionamentos positivos, “como tá a vida?”, “por que não apareceu antes?”, “o que conta de novo?”. Fizeram uma roda em volta dele e se puseram novamente disponíveis, prontos para escutá-lo. E ele estava doido pra saber deles todos de novo.
Arrependido ele estava.
De não ter voltado antes.
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