A Ajuda

b9295316-e953-4ee2-818d-2e3fdde81386.jpg

Olha que coisa mais doidinha. Tem um bom tempo minha mina veio me contar que estava parada no cruzamento aqui de casa, na esquina, na volta do trabalho. Facol vermelho para os pedestres, ela de boas esperando abrir para atravessar. E um cara doidão do lado dela. Batia os pés no chão, olhava para todos os cantos, inquieto, bravo. Gastava a língua contra o céu da boca fazendo aquele barulho de impaciência, sabe? Bufava e olhava o relógio.

O apressado clássico. Até aí, nada de anormal na saída do rush na cidade de São Paulo. Mas uma coisa chamou a atenção dela, o suficiente até pra me contar numa conversa posterior. Antes de o farol abrir para o verde, no ápice do desespero dele em atravessar logo, ele disse em voz alta: “puta que o pariu, vinte minutos esperando pra abrir essa porra”. Quando abriu, ele se atirou na faixa de pedestres e sumiu num piscar de olhos. E a pequena comentando isso comigo, achando triste por ele, mas engraçado pela situação de ele, na urgência daquele momento, julgar que esperou por vinte minutos para que o sinal o deixasse avançar.

Claro que tanto ele quanto a gente, conversando depois, sacamos todos que não se tratava literalmente de vinte minutos. Mas ficamos intrigados, só ela e eu, o cara provavelmente nunca mais pensou nisso, do quão perto ou distante ele estaria de sua afirmação nervosa. É uma avenida movimentada, que realmente privilegia muito, mas muito mais os carros que os pedestres, daqueles sinaleiros que fica verde e avermelha antes mesmo de você chegar na calçada posterior.

No dia seguinte, na hora do rush, fomos até o cruzamento. Ele fechou e eu abri o celular para ver as horas. Aguardamos sorridentes o semáforo abrir para os pedestres de novo.

Deu dois minutos. Um e cinquenta e sete pra ser mais exato. Mas arredondemos, né?

E daí? Que, mais do que fazer sarro do cara que amentou de dois minutos pra vinte, mais que mostrar que ele é um estressado safado e que só fala besteira, acabou que o aflito nos ajudou. Muito.

Como eu disse, é um cruzamento que realmente é meio chato de esperar. O farol realmente demora, mais por essa preferência pelos veículos do que pelo tempo em si, pois, como confirmamos aqui, leva dois minutinhos.

E foi isso. Dois minutinhos. Não tem absolutamente nenhuma situação de não urgência que me faça estressar por dois minutos. Quando saio, agora depois de tudo isso, e o farol tá ficando vermelho pra mim, pedestre, eu nem aperto o passo. Parado ao lado do postezinho com o botão “aperte para abrir”, meu coração está bem em paz. Não há preocupações, não vai me atrasar em nadica de nada.

Tá tudo bem.

Porque, afinal, não são vinte minutos. São dois. Menos de dois.

Obrigado, cara afobado. Você me ajudou muito. Espero que, em muito breve, alguém te ajude assim também.

Jader Pires