A comida daqui
Quando dá uma fome danada, geralmente entre o lanche da tarde e o jantar, quase sempre levando o cão para o passeio, me vem essas contas na cabeça. A gente passa em frente a um pequeno estabelecimento que vende churros. Eles são lindos, vendidos com recheios e coberturas diversas, pode ser o tradicional doce de leite, pode ser chocolate ou creme. Tem até de Nutella. Por cima, granulados ou amendoins, estalinhos para intensificar a crocância. Me lembro dos churros mexicanos, quando lá estive, longos e finos, vendidos de dúzia nas lojas de pães da Cidade do México. Tradicional naquele país, a fritura não tem nada dentro e nem vem com nada por cima. Apenas a massa doce para levar para casa.
Caminho no compasso dos interesses do cachorro indeciso. Numa esquina eu prefiro o exagero brasileiro, essa breguice alimentícia que enche o estômago bem. Na outra rua começo a pender pela herança cultural discreta dos latinos, a esperteza de mergulhar o churro nu em um pote de dulce de leche acompanhado de café. Que saudades dá.
No mesmo passeio, ainda, cumprimento o tio que faz cachorro-quente. Dentro da pequena van, um arsenal completos para a manufatura do sanduíche. Molhos, conservas, batata em variedades, da palha ao purê. Gente, em São Paulo comemos hot-dog intuchado de purê. No chile se usa massa de palta, um tipo de abacate. Sim, o dogão por lá leva abacate. Já ouvi dizer que no Rio se coloca ovo de codorna. Maionese caseira, temperada, ketchup, mostarda, molho de tomate com pimentão e cebola frita. Salpicão, beterraba, pepino, picles, ervilha, milho, toucinho, requeijão, farofa. Para Nova Iorque eu nunca fui, mas vendo nos filmes da tevê que se come um pãozinho sovado com um restolho agridoce por cima. Que tragédia deve ser. Já não basta a pizza por lá ser aquela fatia grande, um exagero, mas sem nada a oferecer, um queijo e só. Por aqui, além da variedade que nem vale a pena mencionar, ainda temos a pizza doce pra arrematar o dia, banana com canela, chocolate com sorvete por cima.
Como a gente é brega ao comer por aqui. Mas com fome, entre o evento requintado e a festa na garagem, vou sempre dar preferência às comemorações alegres e cafonas, nessa ordem.
Como é bom ser jeca.