A grande dúvida
Eu estava preparando um texto sobre as imprevisibilidades da vida, pequeninos contratempos que a vida nos impõe em prol de uma atenção mais apurada, um cuidado com o nosso entorno cotidiano, pílulas de lição de moral pra que saibamos, sempre, quem é que tá no comando. Essas coisinhas de se deitar com os olhos bem onde alcança a luzinha do videocassete (tá certo, do roteador da Internet pros de menos idade) ou então chegar em casa muito cansado, cansado demais, e perceber que o controle da tevê ficou no rack no exato momento em que se senta no sofá tão confortável.
Era pra ser uma cronicazinha desse calibre, bonitinha de ler, gostosinha de matar numa sexta-feira.
Mas aí fui falar com um grande amigo, esse que vocês já conhecem do texto do bêbado (sim, a história fantástica tem como base um rolê dele) e perguntar sobre algumas outras pequenas peripécias que ganhamos no dia a dia.
“Cara, no inverno…”, e me arrumei na cadeira pra aguçar os sentidos, porque se o camarada cita uma estação do ano logo de saída, é porque deve ser algo bem estruturado em sua cabeça e, logo, deve ter importância maior que o normal, “...às vezes você percebe que está sem papel e tá frio demais pra ir direto pro banho e entro num dilema grande de ter encarar o chuveiro gelado e limpar tudo de uma vez, mas passar uma friaca danada, ou ir com a bunda me sujando mais e mais a cada passo até o banheiro do bróder que mora comigo. E aí a gente fica nessa, né, bunda suja, bunda gelada, suja ou gelada, suja gelada? Manja?”
Não tinha mais como seguir com minha escrita. Não dava pra eu levar aquelas bobeirazinhas adiante. Não naquele momento. Eu pensando em probleminhas enquanto pessoas passam por reais impasses, distúrbios, dificuldades.
Imaginei o tamanho do trauma de acordar no começo da madrugada com um cara pelado de bunda suja invadindo o seu banheiro.
Que atrocidade.