O encanador

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Foi do dia pra noite. Quando vi, a água já formava um caminho não natural entre os vincos do piso da cozinha. A nascente brotava da parte baixa da cozinha e nem eu nem minha mulher teríamos tempo para observar. Como eu precisava sair mais cedo, deixei com ela o trabalho de combinar a visita de um encanador.

A correria não deu trégua e as atividades importantes do trabalho afogaram o ocorrido. Esqueci que tinha vazamento em casa. À tarde, uma mensagem no celular: "Gato, marquei inspeção nos canos da cozinha pro fim do dia. O moço vai aparecer lá em casa depois das 17h. Esteja lá para atendê-lo".

Nada mais justo. Organizo minhas coisas para sair com tempo de abrir a porta para o profissional. De casa eu poderia terminar as coisas do trabalho. Na volta para casa, no busão, fui pensando em como seria importante eu entender mais das coisas da casa, e como nós todos deveríamos aprender conhecimentos básicos de alvenaria e carpintaria, de mecânica e elétrica. Nada que nos transformasse em profissionais, que acabasse com diversas entidades de classe, que colocássemos como herói o papai urso do desenho animado que prefere fazer todos os reparos de casa por si só em vez de gastar à toa com aproveitadores. Não. Vim pensando no interessante fato de ter aproximação com esses assuntos, não ser passado pra trás, mas também, de se manter mais próximo na relação com esses trabalhos manuais, com esses feitos fundamentais nas nossas vidas que deixamos de lado porque, bem, a moda agora é a tecnologia.

Eu queria ser amigo do cara que iria chegar em casa pra ver meu encanamento.

Mal coloquei a chave no pendurador e a campainha tocou. Era o bróder dos canos. Abri o portão do prédio e pedi pra subir. E daí que entrou em minha morada um senhor baixinho, seus quarenta e tantos. Um sotaque forte da mooca, parecia um italianinho que vive com a nona em alguma vila, sorridente e de vozinha fina. Ele usava um macacão jeans bem azul, com uma camiseta vermelha por baixo. Uma boina também carmim vermelha e botas completavam o figurino.

Eu queria MUITO ser amigo desse cara. Ele me cumprimentou, disse que era da empresa tal e que ligaram pra marcar visita. Eu ascendi que sim com a cabeça e meus olhinhos provavelmente estavam brilhando. Mostrei à ele a cozinha e o moço prontamente entrou debaixo da pia. Só daí que minha boca resolveu falar: “desculpa perguntar, mas qual é o seu nome?”

“Eu me chamo Luiggi”.

Que puta decepção.

Jader Pires