A ajuda
Tremia as mãos e, para esconder o fato, deixava as duas enfiadas dentro dos bolsos.
Enquanto o amigo falava, ele ia tentando desgrudar as paredes da entrada da garganta que não deixavam a pouca saliva escorrer. Não ouvia mais a conversa. Apenas deixava os olhos mirados na direção do colega, como se estivesse prestando atenção, mas só enxergava a boca alheia se movendo, alguns perdigotos brotando nos lábios quando se exaltava empolgado na narrativa adolescente.
Enquanto isso, sua cabeça tentava montar de maneira coerente e racional o passo-a-passo de como resolver os problemas que estava enfrentando. Sua namorada disse abertamente que não queria mais transar com ele na mesma semana em que viu, quando passava pelo corredor pela manhã, seu pai chorando de frente para o espelho por medo de perder o emprego e não ter mais chances em novos mercados de trabalho.
Queria, ele, contar isso tudo pro amigo.
Mas não tinha coragem. Não queria parecer menor. Não queria ser fraco. Por isso as mãos, trêmulas, suando nos bolsos da calça. Por isso os olhos em um lugar e a cabeça em outro. Completamente distante.
Tão longe que não percebeu que seu amigo estava eufórico contando quaisquer groselhas porque não queria voltar pra casa e ter que dar de cara com a casa ainda vazia depois de três meses desde o divórcio, para ter ainda mais certeza de que ela não iria mais voltar. O amigo achava que a mulher o abandonou porque ele não transava direito, que talvez fosse pequeno demais.
Mas ele jamais iria confessar isso.
Então ele contava umas histórias até ficar bem tarde.
Até quase ficar tarde demais.