As pombas

038.jpg

Seis e vinte da manhã
A Lua ainda aparece
E o Sol vai se abrindo em cortina de luz
Uma nova manhã, outras horas que virão
E eu sentado aqui no chão
Vendo as pombas comendo as poucas migalhas
Logo elas chegam aqui
Vão comer perto de mim
Já faço parte da paisagem...
E logo elas vão comer o bico dos meus sapatos
Meus cadarços, a barra de minhas calças
Vão bicar meus mamilos, o lóbulo de minhas orelhas
Vão sussurrar besteiras...
Que diabos você faz aqui? Você não é pomba
Você não é migalha, não é chão...
Vai embora! Você não faz parte da paisagem!
Até as pombas me recusam
Provaram de minhas roupas, da minha carne
E agora gritam comigo, vão comer em outro lugar
As pombas precisam de espaço, precisam se alimentar
Será que sou restos? Migalhas do homem que um dia eu fui?
Homem honesto, homem de luta, homem amado...
Olha lá! As pombas foram embora...
Sobre o que eu vou escrever aqui agora!?

Jader Pires