O Japão como é

006.jpg

Veja só você que graça que é o detalhe. É, para mim, incrível a satisfação de estar no país em que tudo funciona. Um exemplo assaz interessante para essa nossa conversa foi ir ao metrô de Tóquio. Não tanto pela sua funcionalidade ou a fama de ser por demais pontual, e é de fato isso tudo do jeitinho que nos contam, mas por um detalhe que me apeteceu o cocoruto. 

O adentro do portão quatro da estação de Omotesando, área nobre da megalópole japonesa, é feito por uma escada. Até aí normal, precisamos todos descer para ir ao metrô, seja aqui nesse canto do mundo no aí no Brasil ou Agentina ou Inglaterra. Enfim, deu pra sacar o óbvio. Nessa descida, avisos de que a mão é pela esquerda sempre. Quem desce, o faz pela esquerda. Quem sobe, o faz pela canhotinha da escada. Certo? Certo. Como conhecemos bem a disciplina deles, os japoneses sobem e descem pelo lado ordenado. 

E aí o detalhe. Chove por esses dias aqui na capital e, na escada, o lado esquerdo estava todo molhado, a metade exata de cada um dos degraus. A metade direita para quem desce, ou seja, o lado de quem sobe, estava sequinho de tudo. 

Deus, e não é que eles fazem direitinho?

As pessoas que vinham da rua molhavam o pedaço que lhes era pertinente. Quem subia não molhava nada pois estavam secos. Que precisão, amigos!

Balela. Das maiores.

A história é completamente verdadeira e realmente me espantou ver que as pessoas descem pela esquerda e sobem pela esquerda. Isso acontece nas calçadas também. Pero que, claro, nem tudo é céu e nem tudo é chão. Quando desembarquei mais lá no centro, era hora de subir a escadaria que me levaria para as ruas. O primeiro a galgar os degraus foi um cara de, sei lá, quarenta e pouquinhos. Pela direita. Na parte molhada e com os pés sequinhos. O canto dos que deveriam descer, entrar, embarcar outros nipônicos. O cabra dos olhos puxados foi pela contra-mão, bicho. 

Atrapalhou o tráfego? Não atrapalhou. Atrapalhou o público? Atrapalhou não. Atrapalhou o sábado? Não senhor. Ele seguiu seu caminho e o Japão permaneceu sendo o país onde tudo funciona. Inclusive a burladinha de regra.

Fica menos distante. Da realidade e da gente.

Jader Pires