O tesão
Doeu quando os dentes, perfilados em perfeita harmonia, puxaram a pele solta no canto do lábio. Saiu sangue e, mesmo dolorido, estancou o pequeno rasgo com a língua.
Não sabia ao certo se a ferida fora causada pela raiva contida ou só por desatenção que a foto lhe provocara ao impregnar sua cabeça de memórias desagradáveis, apodrecidas.
Olhando a imagem eternizada em filme, sentiu novamente os cheiros, o gosto que ficara da hora que estava entre as pernas, se arrepiou com a lembrança de como os dedos escorriam pelas costas enquanto se dedicava em prazeres.
Queria mais daquilo. Mas não tinha mais.
E daí se mordeu. Não sabia se de raiva ou de vontade.
Um pouco dos dois, talvez.
A conclusão deu ainda mais tesão.