Vontade

056.jpg

Tudo que eu mais queria nessa noite era dormir com a mão nas tuas coxas. A garota que eu conheci no bar já estava dormindo no meu quarto, então desliguei tudo, apaguei as luzes e atravessei a sala feito espectro. Nada se mexeu e nenhum som foi percebido. O calor que fazia era tremendo e foi curioso perceber que eu não estar suando. Nenhuma gota brotava em meu rosto, no peito. Era como se eu fosse capaz de reter tudo que pudesse sair de mim e chamar atenção. A vontade de você era uma delas.

Meu corpo lânguido chegou na cozinha ainda no escuro e, por conhecer bem a disposição de todos os móveis e eletrodomésticos, não trombei em nada e não tive dificuldade em atravessar o pequeno corredor que liga esses dois cômodos da casa. Tomei um copo grande de água quase de uma vez, em poucas goladas que me fizeram acentuar a respiração.

O desejo era tanto que, quando dei por mim, passou já mais de vinte minutos que eu estava na mesma posição, com as mãos apoiadas na pia e os olhos mirando um nada. Tomei então a decisão de queimar todos os frames de minha mente acendendo a luz e encarando minha fraqueza no reflexo da porta do microondas. Foi aí que minha imaginação provou ser bem mais forte do que eu podia pensar, pois eu ainda tinha milhões de cenas pra me aguçar, mesmo sabendo que, nessa noite, você não seria minha de forma alguma.

Não voltei pra cama, pro meu quarto. Nessa noite, a esperança é que foi minha parceira e me acompanhou na madrugada sem sono.

Jader Pires