A parede de casa é muito fina pra uma punheta | Do Amor #150
Escutou a mãe chegar do trabalho já pra lá das nove. Quando a viu, pediu a benção, mais por besta costumagem que por gentileza. Deixou-a tomar seu banho sem urgências, sentaram-se juntos à mesa e jantaram qualquer coisa que ela trouxe embrulhado num saco bege de papel. Depois, cada um rumou para seu quarto.
Já estavam preparados para quarentenar juntos pela terceira vez, o vírus parecia dançar como se fosse um estereótipo de amante latino, se aproximando e sugando todas energias com seu sorriso de bigode curto para depois se afastar, como se fosse embora, mas retornava mais perto para uma nova bailada alguns instantes depois. Por isso, cumpririam as novas orientações do governo de se trancarem em casa enquanto o danado estivesse por perto. Nisso se passaram três semanas.
Neste ponto, tanto mãe quanto filho acumulavam dias sem transar. Não juntos, por óbvio, não estou aqui reescrevendo a Bíblia, mas com pessoas com quem se relacionavam no mundo exterior, namorados, peguetes, colegas coloridos, amigas de dar umazinhas. Quando os dias lhes permitiam ao menos fazerem passeios rápidos, um se aproveitava da ausência do outro para extravasar, abrir vídeos eróticos, teleconferências com pessoas safadas para verem e serem vistos, cada um em sua intimidade, cada um no seu quarto. Mas, nesses dias de confinamento bruto, com disponibilidade apenas para descer e pegar a pizza do delivery, a claustrofobia sexual se intensificou. Ao menos para ele.
Pelado em seu quarto, fitava tristonho a janela com aquele ar inexprimível de quem está em casa, a pele já acinzentada, ralas e delicadas bolinhas de neve recusando-se a caírem em linha reta nos telhados ou no solo, ziguezagueando como se tirassem sarro da figura débil dele, privado de liberdade, seguras por não se preocuparem com o micróbio filho da puta que há mais de um ano aterrorizava o planeta inteirinho. Baixou os olhos e encontrou o próprio pau. Com a ponta de dois dedos, o polegar e indicador, atritava os pelos escuros da púbis, escutando o crec crec do ralar de pentelhos. Naquela idade e naquelas tardes de seca, era um afago bobo desses o suficiente para despertar uma ereção. As bolas balançavam com o movimento, o sangue parado passava a trabalhar e simplesmente deixava a cabeça dar pequeninos, porém esforçados saltitos até se ver de pé. Qualquer lembrança singela ou publi de biquini em que a garota mostrasse a bunda e ele tinha material para se entreter. Mas tinha a mãe, entediada no quarto ao lado, ora passando para usar o banheiro, às vezes sacolejando meio sem razão de ser entre a cozinha e o final do corredor, onde ficavam seus aposentos. A parede também, essas dry wall fáceis de serem erguidas quando se está montando um apartamento, não lhe davam confiança, parecia que, ao bater uma punheta, estava automaticamente se masturbando a seis ou oito centímetros da cama da própria mãe. O barulho da fricção das mãos e da pele soavam, naquele recorte, para ele, um estardalhaço satânico, a batucada de cem mil, um alvoroço, escarcéu, sua genitora escutando cada socada com a direita, o rebumbar do pouco esperma que lhe lubrificasse aos poucos. Mesmo se estivesse dormindo no repouso mais profundo, despertaria com tal levante, o agito chacoalhar a cabeceira dela, os avisos devassos, os alarmes libertinos. Toda vez que tentava brincar com a própria rola, desanimava ao pensar na simples existência da própria mãe. Um capturado e aprisionado num pan óptico, sem saber se a vigia estava de olho nele, mas que a qualquer momento, sem que ele soubesse, podia estar sendo monitorado. Cabisbaixo, com os olhos opacos, enclausurou também o piu-piu vestindo a cueca e ligou o videogame.
Tem coisa que a gente não faz, supostamente por amor.