Ele pegou quem queria pegar | Do Amor #151

Era um oferecido. Mal adentrou na festa e, de safadeza mesmo, escaneou cada corpinho que ali estava, quase que com um mapa de calor, bundas balançando chamavam mais atenção, em chamas, que cinturas apagadas pelo gelado transparecer da falta de traquejo com o requebrado. Pegou uma bebida, entornou goela abaixo, chacoalhou as têmporas em movimentos rápidos e circulares como se quisesse que o álcool escoasse do cérebro recém hidratado direto para o chão. 

Circulou, distribuiu uma risada palhaça, encontrou um amigo e trocaram abraços, conversaram, ele confessou que queria ver o encontro pegar fogo. Chupou mais uma bebida, procurou outro copo cheio e foi caindo na armadilha de imaginar seu corpo e desenvoltura ficando mais leves quando, claro, tudo o que fazia se tornava mais descortês, pornográfico. Língua de fora, puxões em pessoas aleatórias. Em seus molhados desejos, era para o salão todo estar se pegando, almejava uma Sodoma, uma Gomorra, a sedução generalizada, a nudez exposta, a vergonha lançada na sarjeta. Rodopiou na pista, em volta do bar, tomou mais dois tragos, encostou na loira de vestido laranja que julgou ser uma ótima escolha de cor, combinando assustadoramente bem com o bronzeado falso dela. Mas seu afã com a bebida o impediu de sair vitorioso na empreitada. Gaguejou, tropeçou na língua grossa, a insensibilidade nas palavras, a intransigência no não escutar de volta fez com que qualquer possibilidade de deixar a garota interessada secasse. Viu-se olhando para a parede, negado em suas vontades, excluído pelo exagero. Tomou bronca, recebeu esporros. Foi salvo pelo amigo que o reencontrou em tais maus lençóis, o ralo cabelo sujo de pó amarelo, a roupa ensebada, no lugar dos dentes bonitos escancarados, uma boca fechada e franzida, cheia de pregas. Puxou-o da severa atenção alheia, tirou aquele corpo negro e franzino da posição meio em diagonal e botou-o ereto. 

Riam juntos. Dançaram pra suar a birita, recobrar a gostosura, fizeram bochecho com água pra arrancar o gosto de enferrujado da boca, descolar as línguas. E, no meio desse auxílio, fustigaram os olhos ébrios um no outro, lançaram-se num saboroso silêncio de descoberta um do outro, em como a juventude tosca de um era interessante, mesmo que boba, em como a barba do outro era brilhosa, convidativa para o aconchego. Cheiraram-se numa esgrima de narizes curiosos, nem perceberam que as mãos em socorro agora estavam entrelaçadas, os nodosos dedos de um pressionando os dedos arredondados do outro. Compreenderam, enfim, aquela condição. Com pressa, puxaram-se um pra bater de frente com o outro, beijaram-se com um ímpeto que o clarão deu pra ver a quilômetros de distância, o estardalhaço, as mãos pressionando as nucas, o redemoinho das cabeças. Não era um beijo sensato, era a mais completa entrega ao assanhamento, chuparam lábios, empurraram línguas, a mão que desceu desmedida até a bunda, a pressão, a tomada para dentro era um tratado, uma pilhagem "isso aqui agora é meu", assinado em três vias, confirmado por dezenas de testemunhas invejosas da potência daquele salsero dos demônios. Era isso que eles queriam. Não era a polidez dos apaixonados, não era a fineza dos bem nascidos, tinham, naquele instante, zero apreço aos cuidados cristãos. Queriam somente o domínio do corpo alheio, era só cachorrada mesmo, o fogo, o desejo pelo negão, o desejo pela bicha maravilhosa foda que o amigo era.

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"Espero que isso não acabe aqui". Um deles externalizou, mas era um capricho mútuo. Iriam se pegar mais vezes.

Amor de bi. Amor de bicha. Amor é foda pra caralho.

Jader Pires