Amigo secreto de nudes | Do Amor #192
Nas fotos peladas, Carlos aparecia sempre numa postura antinatural, lhe faltava ritmo para a sacanagem. Botou o celular escorado entre uns livros e botou disparos programados para fotografá-lo a cada oito segundos. Tentou a pose de Superman, mas fez uma careta ao ver o resultado. Mão no queixo, mimetizando O Pensador do Rodin, com intuito de que seus bíceps fossem destaque, mas ficou só cabeçudo mesmo. Testou as duas mãos no pau, que nem o goleiro da Argentina com o troféu na mão, mas achou meio nojento. Passou da cota, mesmo afirmando para si que seu pinto ficara bonitão, lustroso. Experimentou All the single ladies, Luva de Pedreiro. Se as pernas abriam muito, se achava vulnerável, se fechassem em demasia, enxergava os joelhos diminuindo o bilau como numa ilusão de ótica. Recortou a aparência feia de portero campeão do mundo e mandou a foto só do pau, bojudo, pedindo carinho. Mandou o nude para Dora, quem ele amava.
Só que a Dora amava Lia. Escolheu, então, uma meia arrastão que subiu por cima da calcinha preta sem afetações, lisa, para dar contraste. Ficou perto da janela, assim a luz natural poderia pintar melhor os tons da pele dela. Lembrou-se dos abraços únicos que ganhava de sua preferida, só com ela é que Lia levantava um pezinho atrás ao ser apertada. Cheirou na recordação o floral que estava sempre impregnado no pescoço da amiga, deixou as pernas estremecerem, dobrando de leve os joelhos moles. Fechou os olhos, enfiou parte da mão por dentro da meia e da roupinha de baixo, deixando o polegar para fora, a unha vermelha reluzente. Reparou se o braço tatuado, um coração, uma folha e duas toras alimentando uma fogueira, não tapava seu umbigo, notou a linha que subia em seu ventre pelo porte esticado para parecer mais esguia e com a outra mão tirou a foto. Artística, misteriosa. Lia imitou a fotografia de Dora, se colocou igualzinha e a enviou para Léa.
Léa amava Paulo e, para chamar sua atenção, não ficou na imagem estática. Botou uma música na cabeça e começou a serpentear o corpo em frente à luminária de chão, que projetava a sombra enorme de sua nudez na parede alaranjada. E então dançou, os quadris se alargando na imagem propelida, os bicos dos seios confessando a carência de vestimentas. Agachou, se levantou, rodopiou com os cabelos fazendo chuviscos no drywall. O Paulo tava trocando mensagens com o Juca, perguntando abertamente dos pelos dele, do saco dele, e lhe mandava fotos questionando se ficava bem naqueles óculos escuros de armação transparente, se a regata listrada lhe caía bem. Suspirava a cada três pontinhos que antecediam a resposta de seu amor. O Juca amava a Dora, Escrevia pequeninas poesias que serviam de legendas nos bumerangues que ele gravava para que ela visse seus movimentos delicados, o sorriso afável, jogando para ela que, com ele, a vida seria levada no remanso. Mas a Dora estava ocupadíssima encontrando o ângulo perfeito dos pés cruzados lá no alto, atrás da bunda, para mandar outra imagem sua para a Rita que enchia de notificações o celular do Carlos com seus áudios picantes ditos numa vozinha de gatinha ronronando. O Carlos amava a Dora. A Dora amava o Pedro, segredava nudes para ele por e-mail criado por ele só para isso. O Pedro via tudo escondido porque amava a filha, que era amiga da Dora que passava seus dias presenteando a todos que ela amava com suas vontades despidas, suas ganas escancaradas, Dora daria, certamente, para toda a quadrilha.