Mas eles acabaram de trepar! | Do Amor #179

O cheiro era acetoso, amargo, um suor abafado que vinha do quarto deles. Três e tanto da tarde, a janela fechada, o lençol chutado para a beirada da cama. Eu pedi para ir ao banheiro na inocência, queria apenas lavar as mãos desidratadas desse tempo seco. Daí, ao cruzar o quarto deles, veio de imediato em minhas narinas o odor do sexo deles dois. Eles tinham acabado de trepar, era certeza. Abri o lixinho do banheiro atrás de camisinha, mas não ter o preservativo lá, usado e cheio de porra, não era garantidor de que não tinham trepado. Poderia facilmente estar parado e com a borracha já gelada no canto da gaveta de cabeceira de um deles.

Voltei à sala para dar sequência à minha visita que, aliás, estava combinada e reforçada pelo "tô saindo de casa, chego em vinte e sete minutos, segundo o aplicativo" enviado por mim quando, obviamente, eu estava saindo de casa e consultando o Google Maps. A gente ficou de tomar uma cerveja, ver umas finais de NBA. Toquei o interfone, fui bem recebido por eles ao chegar no andar, um abraço demorado dela, beijo nas duas bochechas dado por ele. Nos sentamos, Eu no sofá e o casal na poltrona, ela encaixada com precisão no colo dele. Me deram de beber, perguntaram como estava a minha vida. Eu me distraí contando do trabalho, da garota que havia me perguntado se eu era realmente feliz. Mas depois de sentir o calor da boceta dela no ar, o aroma salgado da rola dele ao atravessar o quarto empapado dos líquidos daqueles dois, retornei para a aposta mais esperto.

Joguei, eu, novas perguntas, como andava o casamento, se a mãe dela tava se recuperando bem da operação na vesícula. Enquanto eles se digladiavam para me responder de maneira satisfatória, eu me atentava aos solavancos mais fortes que davam as saboneteiras dela ao me explicar qualquer coisa que eu já nem escutava, como se ela estivesse cansada, como se tivesse dado tudo de si em cima daquele cara que tava na poltrona lhe dando novos colos. O peito descoberto dele se mostrava lustroso, como se sua transpiração tivesse secado ali e feito uma carapaça protetora e oleosa. Eles tinham transado naquele intervalo de vinte e sete minutos entre eu sair de casa e me sentar de frente para aqueles dois. E não que fosse ou ainda seja um problema eles transarem, longe de mim ser juíz de sexo alheio. Mas bem antes de eu chegar, com meu aviso de que estava chegando. Se arriscaram. Não tomaram banho, Me receberam com as mãos cheias de caldos, as línguas com pequeninos fragmentos de pelos ainda dançando dentro da boca. Eu bem vi que ele fazia umas caretas estranhas, desnecessárias, provavelmente engolindo a prova goela abaixo. E ela ria um riso tão solto, claro, não havia um puto problema que a abalasse depois de gozar imaginando que eu estava para chegar, que eu podia surpreender ambos, que seria eu o empata foda a fazê-los parar no meio do ato. Certamente a culpa não seria minha, mas quem iria carregar agora aquele remorso? Voltei ao banheiro para pegar mais informações. O piso embaixo do chuveiro estava seco. Não tomaram ducha alguma depois da foda. Foi o tempo de dar uma e me receber, enfiados no short capenga, no vestido largo, enquanto eu pressionava o andar deles no elevador. Me recepcionaram grudentos, aderentes. Leves.

E foram horas de papo e latas vazias, a sola do pé dela procurando o dedão do pé dele, os lábios secos umedecidos pelos beijos e pelo álcool. A graça parecia estar em eu saber de tudo. A testemunha da putaria deles. O Sherlock Holmes particular que juntava as peças pornogáficas daqueles dois bandidos gitando com os olhos "culpados" a cada nova evidência, Toda vez que ele mexia nos cabelinhos finos da nuca dela por baixo do rabo de cavalo mal feito, o tempo todo em que as pontas dos dedos dela ficavam esbranquiçadas pressionando o antebraço dele num código morse safado avisando que queria mais, que teria, sim, mais. Talvez até ficassem bolinando as partes um do outro nas vezes que eu ia ao banheiro deles mijar.

Fui embora tarde, já depois dos jogos. Eles se despediram de mim na soleira da porta, juntinhos, agarrados. Ele devia estar cravando as unhas na bunda dela por baixo da saia.

Eu estaria, se fosse ele. Eu gostaria, se fosse ela.

Jader Pires