Você não chama a sua larissinha de larissinha? | Do Amor #216
Estrategicamente discretas, vinham juntas do colégio de mãos dadas até duas ruas antes do endereço onde moravam. Da granja Dona Antônia em diante, não eram, aos olhos alheios, namoradas com desejos incandescentes, mas tão só adolescentes proporcionando uma à outra companhia no retorno do colégio. Mas quem ousasse passar caminhando por entre elas nessas duas quadras restantes dissolveria-se na efervescência do tesão que ambas se encontravam. Isso tudo porque o combinado era claro e fechado havia muitas semanas. Depois de três meses se pegando atrás da quadra, na escola, pedidas em namoro, escrevendo o nome uma da outra nos cantos dos cadernos, o próximo passo seria dado.
Um plano simples. A primeira deixaria a segunda em sua casa, no 84, e carregaria sua face risonha até onde morava, no 230. Subiria novamente umas duas horas depois, quando a mãe da namorada estivesse acabada de sair, iria ao banco e depois daria uma volta no shopping. Levaria consigo um livro ou dois debaixo do braço, tiraria, sob os olhos imaginários que criaram em suas hipóteses, dúvidas escolares. Mas, dados dois ou três minutos, entrariam as duas no pequeno ninho de amor que seria o quarto da menina naquela tarde.
Uma pressiona a outra contra a porta da sala assim que é fechada, uma cinematografia que manteve na cabeça por dias. Rodopia os longos cabelos da outra garota em sua mão, pressiona sua barriga contra a dela. Os quatro pés de tênis All Star cano alto deslizando no tapetinho de entrada, procurando estabilidade para que a compressão encontrasse as melhores sensações, a falta de ar, a baba em acúmulo nas línguas apressadas. Ziguezagueiam pela sala entre desequilíbrios no sofá e as camisetas jogadas no tapete, o pequeno corredor que leva aos quartos, o cômodo adolescente, bagunçado mas cheirando a desodorante e gloss. Ela tem olhos lancinantes, ela faz cócegas com os dedos trêmulos na clavícula, nas asas atrás, nas costas, as mãos são levadas abaixo, as calças jeans travam, já montadas uma em cima da outra na cama estreita de solteiro, um duelo áspero, a disputa contra o relógio, tá gostoso, tá legal, mas minha mãe tem hora, a gente não pode ficar só nesse apertão. Desce, me arranca das ancas essa trabalheira, me deixa livre pra você me conhecer, me chupar, vai, desce, me ajuda.
Com carinhos serviçais, a menina a desabotoa e desliza calça e calcinha, tudo numa só execução, e se retira do colchão para também despir-se, a nudez só será castigada se forem pegas, mas naquele quartinho acalorado, só a tremenda paixão entre as duas existe. A curiosidade polida, os pelos, as gentilezas com o nariz, a rigidez das coxas e os primeiros perpassados da carne contra a pele. Eu te amo, você é muito gostosa, me aperta, prensa assim. Faz mais. Contorcidas e desviradas, aventureiras, as duas, a boca que mastiga pescoço e lóbulo viaja até os ouvidos, cortesia dos arrepios, a fusão, uma troca. Não tem nada que eu queira mais nesse mundo do que a sua larissinha. Que larissinha? A sua. Não, ela não se chama larissinha. E chama como? Não tem. Não tem o quê? Nome.
O levantar-se é abrupto e violento. De joelhos na cama, as mãos entre as coxas, quase que como se protegendo nas vergonhas, a face escancarada da não compreensão. Como assim você não dá nome? Você chama a sua boceta de larissinha? Você não dava nome pras suas bonecas? Pro seu gato? Como você lava entre as pernas sem dar nome a coisa?
Ambas chacoalham a cabeça demonstrando a batalha disruptiva. Pra quê você dá nome pra algo que não precisa de nome? Tudo precisa da porra de um nome. Você ia gostar se sua mãe te chamasse de "menina"?. Porra. Respeito.
E se vestiu.
Na semana seguinte, tiraram boas notas no trabalho de física sobre espelhos esféricos e cálculos de côncavos e convexos.