O Arrependido
Chegou em frente da casa onde morava e se arrependeu. De estar ali, de ter retornado ao local onde tanto sofrimento ele injetou. Culpava-se por ser o pivô da tristeza daquele lugar, como se fosse a sua ausência que transformara o casebre naquela lembrança lúgubre. Só que, ao virar a esquina e dar de frente com o local, não se deparou com o que estava imaginando, mas sim com um local receptivo.
Aconchegante.
Seu sumiço não decretou o fim da coisa, ao contrário. Sua importância era pouca ou quase nada. Todas as mentes que prestavam atenção nele seguiram autônomas e felizes, dedicando atenção a outras saliências que valessem o tempo, que compensasse a disponibilidade. Estranhando a cena, abriu o portão e passou por ele com uns passos pesados, como se vestisse botas de aço, como se quisesse, na verdade, andar para trás, uma mistura de vergonha e entendimento da própria insignificância. Começou a esperar que as reações ao seu retorno fossem de espanto negativo ou, pior ainda, a de indiferença, que as pessoas ativamente mal dissessem dele ou lhe virassem e cara, como se não fosse quisto mais por lá.
Ledo engano.
Ele estava cheio deles. Os que lá estavam recepcionaram-no com calorosos abraços, questionamentos positivos, “como tá a vida?”, “por que não apareceu antes?”, “o que conta de novo?”. Fizeram uma roda em volta dele e se puseram novamente disponíveis, prontos para escutá-lo. E ele estava doido pra saber deles todos de novo.
Arrependido ele estava.
De não ter voltado antes.