Pediu a garota em namoro no puteiro | Do Amor #168

A presença meio desengonçada dele era um charme à parte. Chegava nos lugares com olhos meio perdidos, procurando algo ou alguém, uma curiosidade até que destemida, porque a maioria das pessoas adentra em um ambiente tentando se mostrar cheias de certeza. E era fofa aquela procura. Pegou uma cerveja, com guardanapo colocado por alguém perto do bocal, festa de publicitários, como poderia ser diferente? Cumprimentou os amigos que foi encontrando pelo caminho, os não salvos, os casais sem vergonha. "Obrigado, Puma, por mais uma bebida de graça", pensou enquanto se aninhava num canto para abrir o celular. Era hora de ver quem mais estava por lá ou apareceria. Bastava bater os dedos na hashtag do evento e voilà. A terceira ou quarta mensagem era uma dela, comentando qualquer gracejo sobre estar no mesmo evento que ele. "Olha só, essa mina tá por aqui", disse consigo mesmo enquanto sentia uma pinçada ou duas de vontade. Decidiu que seria ela a escolhida para se xavecar naquela noite. Deu mais uns segundos reparando a fotografia recém atualizada do avatar dela, o enorme cabelão brilhante, o batom e as maçãs do rosto subindo de um jeito que passava ironia de cara. Era o que ele mais admirava nela sem nem mesmo saber bem porquê, o jeito enfrentador daquela garota o atraía por demais. Jaqueta de couro, bebida na mão. Era como ele a conhecia. E era como ela estava naquela noite, com um copo apertado contra as unhas cinzas e rindo um riso enorme, exibicionista. 

Ele então se aproximou dela com uma autocrítica quase nula, foi falando e brincando, jogando algo aqui e outro ali, como se estivesse na serena solitude de uma pescaria, sem fazer a mais vaga ideia de que quem puxava vara e anzol era ela, com os olhões abertos, deixando ele chegar mais perto, distanciando quando e como queria, mantendo a presença galhofeira dele, mas sem presenteá-lo com o que ele queria. Travaram uma bela jogatina, ele tentando, ela gostando, mas um zero a zero que precisaria ser levado para os pênaltis (vocês, que não apreciam nada o esporte "futebolístico", me perdoem). 

Enquanto ela puxava o ar próximo dele e sentia seu perfume e constatando que ele tinha bom gosto para cheiros, ia confessando que não queria nem poderia beijá-lo. Ela estava na dele, mas estava também com uma amiga que não bebia e não poderia deixá-la sozinha para se atracar com um desconhecido. Ficaram, então, por isso mesmo. Mas foi bonita a festa, pá. Barganharam telefones e ele ficou com o número dela. Passaram a semana seguinte inteirinha de papinhos furados, mandando xavequinhos bobos, músicas toscas, uma acidez aqui e uma putariazinha acolá.

Dia ou outro depois, lembrou-se da garota da festa e a convidou para comer comida japonesa junto com os amigos blogueirinhos que lá estariam. Pedido esse que ela negou veemente, dizendo estar atolada de trabalho, que teria outro compromisso, que não dava pra fazer as coisas assim, tão de supetão. Duas horas e meia depois, sem saber afirmar ao certo qual foi o estalo para avançar na loucura, lá estava ela, sentada à mesa com o cara, a mãe dele e uns amigos da Internet comendo sushi. E não pareceu nada estranho. As pessoas legais, o cara super engraçado. Mais tarde, naquela mesma noite, ele ainda pediria para que ela não fosse embora de madrugada e também ordenaria que ela sentasse mais forte em cima do pau dele na cama. Não deu pra negar nem um e nem outro. 

Passaram quatro meses entre encontros casuais, recusas para ir ao motel porque o cartão dela havia sido clonado e só tinha trinta reais na conta, convites para ela acompanhá-lo em eventos de marcas, ele como um inveterado arroz de festa e ela não vendo problema algum em fazer par com ele, comer bem e beber de graça. E em uma dessas empreitadas pagas por alguma agência, eles foram com amigos num clube de comédia na Rua Augusta. Lá pelas tantas, para gargalhar mais solto, um deles fez às vezes de Tim Maia e chegou distribuindo um quartinho de doce na boquinha de cada um. Pedia, tal qual um padre lisérgico, que abrissem a boca e botassem a língua para fora, e colava o pedacinho de papel abençoado com LSD e anfetamina no áspero da pontinha. Nenhum comediante era bom, mas pouco importava, estava tudo bem lindo e divertido, De tão burlesca, a noite acabou no puteiro "Casarão". Ver prostitutas e beber alguma coisa parecia a maneira ideal de encerrar a noite. Sentados, lá, no balcão, em meio a garotas com pouca roupa e a iluminação exageradamente avermelhada, mãozinhas encostadas uma na outra sobre o tampo meio sujo do balcão, ele comentou que bem que eles dois podiam namorar. Os olhos enormes dela ficaram ciscando de um lado para o outro, tentando buscar o tom para aquela frase dele, se era farra ou se tinha seriedade. Um segundo e dois. Três. Questionou se ele tava de sarro ou falando com honestidade. Ele confirmou a segunda hipótese. Já estavam se vendo há tempos, ele só saía com ela, ela só estava ficando com ele. Por que não? Por que não no Casarão? 

O amor estava no ar, oras. Ela aceitou na hora.

Obs. : esta é uma história real! Um casal que, apaixonados, decidem num puteiro que querem namorar. Eu escrevi a história deles pelo meu projeto Cartas de Amor, que escrevo a história das pessoas sob encomenda! Casais, pedidos de casamento, histórias de pais para filhos e de filhos ara pais, amizades e tudo o mais. Quer saber mais? Vem ver no site do Cartas de Amor como funciona.

Jader Pires